sábado, 15 de dezembro de 2012

Fins e começos




" Eu já sinto uma mistura de mau humor e vazio existencial. 
   Mas as vezes melhoram...
   As coisas melhoram. Será que a maldição foi quebrada?
   Nada disso. Já sabia, eu posso estar em um lugar incrível e em ótima companhia, que o vazio aparece em algum momento.
   Não é por causa da companhia, muito menos do lugar, é por causa de mim. Claro!
   Alguém me disse que, em nossa cultura, somos preparados para decolar, não para aterrissar. Faz sentido.
   Subir na carreira é empolgante, se aposentar parece um tédio.
   Começar um namoro é uma delícia, ser feliz depois de anos de relação é mais complicado.
   A gente ama descobrir um livro ótimo, mas sente um buraco quando ele acaba.
   Gosta dos preparativos da festa, não quando estão varrendo o salão.
   Mas fico pensando nessa minha mania de dividir o mundo em dois. Você prefere praia ou campo? É ansiosa ou tranquila? Como se eu fosse simples como um formulário.
   Como se não pudesse ouvir sertanejo na balada e , num momento mais introspectivo, curtir um reggae no carro.
   Rivalidades que não precisam existir são criadas o tempo todo. Tentativa de simplificar a vida, parece.
   Talvez os meus fins sejam como nós: muito mais complexos do que uma opção entre A ou B. 
   E talvez eu não sentisse o mau humor e o vazio existencial se me lembrasse de que eles, os fins, estão colados nos começos. Divido o mundo em dois para achar que o entendo melhor.
   Mas, no fundo, sei bem: não existe salão para varrer se não tiver havido uma festa antes."


(Adaptado de Liliane Prata)