sábado, 31 de dezembro de 2011

O amor que for

A gente passa a vida com medo. Medo de morrer, de ficar tempo demais no emprego errado, de não ter o colo dos amigos quando a gente mais precisa, de não fazer as viagens dos sonhos, de não conseguir comprar a casa própria, de não encontrar alguém para casar e ter filhos.
De todos os medos, o que mais me aflige é o de não conseguir amar. Porque vamos combinar: depois de um, dois, três corações partidos, fica fácil pensar que nada vai dar certo, que as relações viram DRs intermináveis que culminam em mágoas eternas.
Nos livros, nos filmes, nas músicas que a gente passa o tempo todo lendo, vendo e ouvindo, todo mundo sofre por amor. E a gente acha lindo, se identifica, quer viver aquela avalanche de paixão, de tesão, de loucura.
Quando chega a vida real, ah, aí, não: todo mundo quer o conto de fadas. Quer encontrar no outro a imagem da perfeição, alguém sem um passado que diga muito, alguém que mal tenha um presente (só se for com você) e cujo futuro esteja inevitavelmente atrelado ao seu e comece a ser planejado imediatamente.
Não, gente, menos! É preciso entender que a gente é a soma de tudo o que viveu, principalmente de tudo o que viveu com outras pessoas. São as histórias de amor que deixam a gente do jeito que é: às vezes mais madura, às vezes mais medrosa, às vezes mais descrente, às vezes mais otimista para buscar de novo, mas sempre diferente e mais experiente.
O que a gente é hoje é o que importa. A gente faz o que pode e na maioria das vezes é de todo o coração.
Para o fim do ano que se aproxima, eu e 90% da população já começamos a fazer um balanço do que se passou. E cada vez mais acredito que os pedidos - clichês são os que a gente realmente necessita: paz, saúde e amor. Tudo para aguentar os furacões. Afinal, por mais que o medo insista em se instalar, ainda vale mais uma paixão louca do que um coração congelado.

(Daniela Arrais)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Par imperfeito

Por que sonho sempre que tenho suas mãos para me segurar, seus braços para me abraçar, mas é somente sonho?
Cadê você que não está aqui?
Os namorados andam para baixo e para cima de mãos dadas, dando selinhos no barzinho, no restaurante, brigam e depois reatam, mas eu só observo porque você não está aqui e na verdade, não sei ao certo quem é.
Tenho certeza que um dia vai chegar e não vou acreditar, será que já está aqui e eu não noto, será que já te dispensei? 
Não tenho tipos, nem belezas certas, gosto muito de você, agora, hoje e queria muito te ter aqui...
Sonho mais uma noite e não vejo o seu rosto, mas isso não importa, é lindo, sorridente e me protege...
Vou andando, conversando e rindo ao seu lado, nem percebemos os outros, as horas voam e tenho que acordar, acordar para a realidade: minha mão não está entrelaçada na sua, minha boca não está com gosto da sua.
Cadê você que eu estou esperando, vamos dar uma volta, namorar e mostrar ao mundo que tenho um par.
Amo, amo, amo demais. Venha, vamos ter ciúmes, planos e dormir de conchinha...
Tenho certeza que vai ser lindo, o meu sonho tem que se concretizar. Meus passos querem companhia, minha sombra quer a sua.
Anda, não demora, estou aqui, cadê você ?
Te imagino meu, sempre será, mesmo que se for só por hoje, mas é meu.
Queria saber a data, o ano, o lugar, mas está demorando...
O amor já chegou, não vai embora, de jeito nenhum.
Cadê você que não está aqui?



domingo, 4 de dezembro de 2011